COMUNICADO SOBRE A RETOMADA CONSCIENTE DAS ATIVIDADES DA FUNCATE EM CUMPRIMENTO AOS DECRETOS ESTADUAIS Nº 64.881, DE 22 DE MARÇO DE 2020, Nº 64.994, DE 28 DE MAIO DE 2020, E Nº 65.563, DE 11 DE MARÇO DE 2021.


Nos termos do art. 2º, inciso IV, do Decreto Estadual nº 65.563, de 11 de março de 2021 (DOSP de 12/03/2021), alterado pelo Decreto Estadual nº 65.596, de 26 de março de 2021 (DOSP de 27/03/2021), bem como em atenção às recomendações da Organização Mundial de Saúde – OMS, informamos que a FUNCATE manterá as suas atividades exclusivamente em sistema de home office até o dia 11 de abril de 2021. Durante esse período a Fundação analisará os indicadores da Secretaria de Saúde e as regras gerais e específicas que serão editadas, a fim de decidir sobre a forma de atuação do próximo período.

Contamos com a compreensão de todos e continuamos a acompanhar a evolução da Pandemia COVID-19, bem como as medidas dos três níveis de governo (Federal, Estadual e Municipal).

Colocamo-nos à disposição para os esclarecimentos que se fizerem necessários. Atenciosamente,


Dr. Josiel Urbaninho de Arruda
Presidente do Conselho Diretor



Funcate - Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologia Espaciais

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O presidente matemático

Leia perfil do pesquisador Marco Antonio Raupp, publicado em 2007 na seção revista 83 da revista Espaço Aberto, da USP

Autor: Circe Bonatelli
O presidente matemático

Marco Antônio Raupp foi presidente do Conselho Curador da FUNCATE de dezembro de 1985 a maio de 1989

Durante os 40 anos de carreira, a ciência o dividiu entre pesquisador e gestor dos mais importantes centros científicos do País. No novo desafio, o livre-docente do IME (Instituto de Matemática e Estatística da USP) Marco Antônio Raupp amacia a cadeira de presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) desde julho e aposta na sua experiência para traçar uma nova história.

O gaúcho nasceu em 1938, cidade de Cachoeira do Sul, a 196 km de Porto Alegre. Àquela altura, os alemães da família já conservavam um século de imigração. Os primeiros Raupps eram dois irmãos, militares a serviço do Império brasileiro e encarregados de fiscalizar os caminhos entre Santa Catarina e a colônia Sacramento, cenário tumultuado por espanhóis e portugueses.
Cem anos mais tarde, o ambiente sulista não estava mais calmo. Quando Raupp nasceu, seu país materno entrava na Grande Guerra contra o país de seus descendentes.

“Aí acabaram as tradições. Na época, as escolas do Rio Grande do Sul davam todos os cursos em alemão. Mas durante a guerra, tudo isso foi liquidado, foi proibido. Se alguém falasse na língua, o pau cantava! Por isso não aprendi alemão”, recorda. “Mas não falo isso por crítica. Medidas desse tipo ajudam, pelo mal ou pelo bem, a congregar a nação. É difícil um país do tamanho do Brasil com uma população em que todo mundo fale a mesma língua.”

Certamente, esse ponto de vista relacionado à valorização da unidade revela muito sobre o perfil do acadêmico Marco Antônio Raupp. Afinal de contas, sua história pessoal é mesclada à história de diversas sociedades científicas, onde assumiu a função de tangenciar pluralidades. Seu cargo atual é o de presidente da SBPC.

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência foi fundada em 1948 com a proposta de orientar os investimentos e pesquisas científicas. A missão começou em 1948, se mantendo desligada de partidos políticos ou fins lucrativos. Ao longo desses 59 anos, a presidência já foi ocupada por outros nomes da USP, como o geógrafo Aziz Ab'Sáber e o geneticista Crodowaldo Pavan.

A gestão de Raupp começou em julho e vai até 2009. Antes disso, porém, teve que vencer as eleições apertadas contra o farmacólogo Renato Balão Cordeiro, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Pela primeira vez na história da SBPC, houve empate dos candidatos: 579 votos para cada, obrigando uma segunda votação, em que o vencedor teve diferença de apenas 15 votos.
Muito bem-humorado, com o broche da SBPC espetado no lado esquerdo do paletó, o professor Raupp comparece semanalmente na sede, ali na paulistaníssima Rua Maria Antônia, Vila Buarque, vizinha ao Mackenzie.

“Minha marca vai ser um esforço no sentido de cobrir alguns gaps, alguns distanciamentos do sistema de ciência e tecnologia com relação a outros vários setores fundamentais para o desenvolvimento do País”, afirma o professor, com caneta e papel à mão, prontos para alguns rabiscos e indicações enquanto fala.

Os gaps e fragilidades da academia no Brasil, segundo interpreta, são a falta de entrosamento entre universidades públicas e empresas, a concentração dos centros de pesquisa no Sul-Sudeste e o fraco ensino médio. (Veja as críticas de Raupp em Opiniões, abaixo).

A indicação do norte é garantida pelo homem de cabelos grisalhos que já navegou como diretor/presidente/pesquisador de vários centros: Departamento de Matemática Aplicada do IME/USP, Universidade de Brasília, Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC), Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), Parque Tecnológico de São José dos Campos (onde é diretor atualmente), Fundação Parque de Alta Tecnologia de Petrópolis e Instituto Ciência Hoje.

Algumas, além de dirigir, também ajudou a fundar. É o caso do Instituto Politécnico do Rio de Janeiro, em Nova Friburgo, 1990. Hoje incorporado pela Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), o instituto foi o primeiro centro de pesquisa fora da capital no Estado, abrindo a interiorização consolidada pela Universidade do Norte Fluminense, instalada quatro anos depois pelo antropólogo Darcy Ribeiro.

Ao contar a própria história, Raupp demonstra um orgulho especial pelos anos no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia. “Mandaram um matemático dirigir um centro espacial. E eu consegui. Fiz uma administração com novos projetos que estão no âmago da atividade do Inpe até hoje”, recorda.

Entre 1985 e 1989 no Inpe, uma de suas contribuições foi o CPTEC, Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos. “Toda vez que ligo a televisão e vejo a moça do tempo, me lembro disso. Mas eu não fiz nada sozinho. Para isso é preciso uma equipe. Eu fui convencido pelos meteorologistas de lá sobre a necessidade de um centro assim e, como diretor, conduzi a proposta”, explica.

Outra realização do matemático no centro espacial foi o acordo de cooperação entre Brasil e China, em 1988, visando ao desenvolvimento dos satélites CBERS-1 e CBERS-2. O pacto foi pioneiro das parcerias espaciais exclusivas entre países do Sul. Até então, sempre havia uma nação do Hemisfério Norte nos encontros. Hoje, são esses satélites que produzem imagens do globo, especialmente da Amazônia.

Tal iniciativa foi homenageada com o título Comendador da Ordem de Rio Branco, concedido pelo Ministério das Relações Exteriores naquele mesmo ano. “Para mim, esse título é motivo de orgulho, porque não sou um diplomata de carreira, eu sou um cientista. Receber medalha como cientista tudo bem, mas receber por diplomacia!”

Para o cientista, as atividades de pesquisa estão suspensas por tempo indeterminado. “Na minha vida toda, me dediquei mais tempo à carreira acadêmico-científica. Mas, nos últimos anos, eu só tenho cuidado de funções administrativas, nem estou vinculado mais a nenhuma instituição acadêmica. Com esse furor da SBPC, não dá tempo.”

Ao longo da carreira, porém, teve uma coisa que o professor não abriu mão, já que veio de uma família muito ligada à zona rural. “Não sosseguei enquanto não comprei um pedaço de terra lá nas Minas Gerais. É uma fazenda pequena, que tem gado e milho”, conta, com um ar bonachão e sorriso no canto da boca.

O forte do pesquisador Raupp é a matemática aplicada a problemas físicos e de engenharia, tema de seu doutorado na Universidade de Chicago, Estados Unidos. O assunto é bem diferente da almejada graduação em Direito, que cogitou seguir quando tinha apenas 17 anos.

Na Universidade de São Paulo, passou quatro anos tocando pesquisas e lecionando no IME. “Eu gosto de dar aula. Acho muito bom, porque isso obriga a sistematizar o conhecimento e articular as ideias.”

Para seguir o próprio caminho, Raupp teve que aprender desde cedo a se articular. “Quando disse para o meu pai que eu queria ser cientista, ele respondeu ‘tá doido, você precisa ser advogado ou médico'. Fui enquadrado por uns bons tempos. Mas quando ele viu meus argumentos, quando viu minha certeza, não fez mais pressão.”

Opiniões

Ocupação da Amazônia
“Não queremos que a Amazônia seja um santuário, mas também não queremos que seja um cemitério. Para ocupar, adotando as melhores estratégias, é preciso ter o conhecimento científico básico sobre biodiversidade, clima, população, saberes tradicionais dos povos indígenas, medicina local, entre outras coisas.
Isso tudo precisa ser desenvolvido. Biodiversidade pode ser mais valiosa que a extração simples da madeira. Ao invés de queimar vários hectares, é mais valioso aproveitar cobras, insetos e folhas para deles retirar substâncias. Um miligrama disso vale mais que a madeira. Temos um exemplo concreto da necessidade de conhecer e explorar com racionalidade, respeitando nosso patrimônio.
Ciência na Amazônia é uma demanda para o desenvolvimento do País. Não é só da região. Estamos falando de ciência e recursos humanos desenvolvidos lá, não importados de outros países, que é para ampliar e manter a estrutura científica. A mesma postura vale para o semi-árido e para o Pantanal.”
 
Universidades públicas e empresas
“Quem tem que gerar produtos é a empresa. Porém, ela precisa contar com o apoio da universidade. “A ciência no Brasil sempre foi desenvolvida por universidades, e o modelo de substituição das importações não demandou inovação tecnológica. As empresas eram filiais, já traziam a tecnologia de fora, ou contratavam escritórios estrangeiros.
Mas se quisermos competir no mercado global, nós temos que competir com produtos de alto valor agregado. As empresas têm que inovar e, para isso, dependemos da ciência e da tecnologia.
Portanto, é fundamental uma interação entre os produtores de conhecimento (universidades) e aqueles que querem transformar o conhecimento em bens de valores econômicos (empresas).
O quadro legal até era complicado para fazer esse tipo de cooperação. As instituições produtoras de conhecimento são públicas, enquanto as que transformam conhecimento em dinheiro são privadas. O quadro hoje está mudando. A Lei de Incentivo à Pesquisa (proposta pela Pró-Reitora de Pesquisa da USP, Mayana Zatz, esta lei abate impostos das empresas que financiarem atividades científicas. Foi promulgada em junho) é um exemplo disso.”
 
Ensino Médio
“Tem minorias que sempre foram prejudicadas socialmente e eu sou a favor de cotas e políticas compensatórias. Antigamente se tinha bons colégios públicos. Mas era só a classe média que ia para a escola. Aí, quando as classes menos favorecidas começaram a ir para a escola também, houve um colapso. Tinha muita gente matriculada e o nível de investimento não cresceu. Esse é um esforço que precisa ser retomado.
Em primeiro lugar vemos o impacto no nível superior. Você não pode ter uma porcaria de ensino médio e uma beleza de ensino superior. Nós temos uma boa pós-graduação, mas isso é exceção porque a maioria dos pós-graduandos são pessoas que se formaram em universidades da elite. Eu estou falando da USP. A USP é da elite, a Unicamp é da elite, a Uerj é da elite. Não é qualquer um que entra lá. Você precisa ter feito pré-vestibular, ter pago um bom ensino médio.
O que eu defendo é a massificação da qualidade. Não é qualidade para meia dúzia de pessoas. Tem minorias que sempre foram prejudicadas socialmente e eu sou a favor de cotas e políticas compensatórias. Isso é a minha posição, não sei qual é a posição da SBPC sobre isso.”

Foto: Lecino Filho/Ascom do MCTI

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